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Adições comportamentais em adultos: frequentes, perigosas e subvalorizadas

Dr. Javier Cotelo

Notificação

20 de maio de 2024

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A necessidade de estar sempre conectado às redes sociais pode gerar uma verdadeira síndrome de dependência e abstinência, algo que também pode vir associado a transtornos alimentares. Geralmente subvalorizados em adultos, as adições comportamentais não despertam tanto alarme, mas podem ser perigosas.

Um seminário on-line organizado pela Sociedad Española de Médicos Generales y de Familia (SEMG), por meio de seu Grupo de Trabalho sobre Estilos de Vida e Determinantes da Saúde, mostrou que, ao mesmo tempo em que a sociedade e os hábitos de saúde mudam, surgem desenvolvimentos e tecnologias que representam novas ameaças de dependência (sem uso de substância), como redes sociais, jogos de azar e apostas on-line, quadros cada vez mais observados nas consultas de atenção primária.

Dra. Isabel María Paúles

A Dra. Isabel María Paúles, médica especialista em medicina de família e comunidade do Centro de Salud Caspe, na Espanha, e chefe do grupo de trabalho Estilos de Vida e Determinantes da Saúde da Sociedade Espanhola de Médicos de Família e Generalistas, centrou sua apresentação nas redes sociais e comentou com o Medscape sobre o perfil específico de pacientes adultos dependentes delas: “As pessoas que mais se destacam no uso das redes sociais são mulheres e internautas com idades entre 18 e 34 anos. O celular é o dispositivo mais utilizado, e um em cada dois usuários segue influenciadores ou criadores de conteúdo digital que tentam influenciar o comportamento de outros usuários da internet”.

Dependência, cyberbullying e fraudes

Vale reconhecer o benefício das redes em conectar as pessoas com o mundo, dentre de muitos outros, mas não se pode esquecer vários inconvenientes graves, entre os mais relevantes: grande consumo de tempo, adição, facilidade (e excesso) de compartilhamento de informações pessoais, cyberbullying, dependência da aprovação dos outros e golpes.

Sobre alguns sinais de alerta para detectar o problema na atenção primária, a Dra. Isabel destacou que, em nível físico, “é possível observar alterações musculoesqueléticas devido às más posturas adotadas durante o uso do dispositivo móvel, por exemplo, dores cervicais frequentes”. Enquanto na esfera mental, estes pacientes “geralmente apresentam comportamentos de evitação quando interagem face a face, ficam irritados com as atividades da vida real e se não têm o dispositivo para se conectar ou não podem fazê-lo porque têm outras obrigações, chegam a negligenciar estas últimas, adiando tarefas no ambiente acadêmico ou de trabalho”.

Nessa linha, a Dra. Isabel acrescentou que a necessidade constante de estar a par dos acontecimentos atuais e receber curtidas e comentários, juntamente com a pressão para manter uma imagem e uma vida perfeitas, muitas vezes irreais, “faz com que esses pacientes apresentem sinais de empobrecimento da autoestima e da autoconfiança, bem como aumento de ansiedade, estresse e depressão. Foram observados, inclusive, distúrbios alimentares “devido à exposição indiscriminada a estas plataformas digitais”.

Jogos on-line e adolescentes

A Dra. Paola Martínez, presidente da Sociedad Aragonesa de Médicos Generales y de Familia, afirmou que mais de 10% dos jovens estudantes do ensino médio entre 14 e 18 anos na Espanha jogaram com dinheiro no último ano por meio de videogames ou apostas on-line. Ela lembrou que o “risco de jogo patológico é maior na versão cibernética do que no jogo presencial”, sobretudo entre adolescentes.

Nesta faixa etária, deve ser incentivada a utilização responsável e moderada das tecnologias e dos jogos de azar. Da mesma forma, a partir das consultas “é importante detectar sinais de alerta que façam suspeitar comportamento aditivo neste tipo de jogos e apostas para oferecer os recursos necessários para o tratamento adequado”, afirmou a Dra. Paola.

Números alarmantes indicam que 5% dos jovens são dependentes do uso de redes sociais, as taxas de ansiedade e depressão aumentaram 70% entre os esta população nos últimos 25 anos. O cyberbullying é um problema crescente que afeta 7 em cada 10 jovens.

Subvalorizado em adultos

Dra. Llanos Conesa

A Dra. Llanos Conesa, secretária da Sociedad Española de Psiquiatría y Salud Mental (SEPSM) e chefe da seção de Psiquiatria do Hospital General de Valencia, na Espanha, disse ao Medscape: “Ao abordar o problema do uso excessivo de redes sociais, geralmente pensamos em jovens e adolescentes, mas é verdade que muitos pais adultos fazem uso indiscriminado deles”.

Encontramos adições comportamentais de vários tipos porque agora tudo é muito mais acessível para todos, o que faz com que se evite contato presencial e experiências da mesma natureza. Também é fácil acessar o jogo, e durante a pandemia essa prática se intensificou muito devido à impossibilidade de sair de casa.

Sobre este tema, a especialista destacou: “Na minha opinião é subvalorizado nos adultos, porque estas adições comportamentais não causam tanto alarme quanto a dependência de substâncias, mas são perigosos como os outros, embora em alguns aspectos sejam menos visíveis, a menos que haja uma ruptura com um parceiro ou uma ruína familiar ou econômica. Fora isso, são tão comuns quanto as dependências de substâncias, e as redes tornaram a situação muito pior”.

Expor os detalhes da própria vida ou da vida dos outros também é algo a ser levado em consideração. “É uma versão filtrada e editada da realidade com consequente baixa autoestima”, disse a médica.

Uma exposição distorcida da aparência física por meio de filtros e edição de fotos pode nos levar a padrões físicos inatingíveis que afetam negativamente a autoestima e a autoconfiança, o que leva a problemas de autoimagem e até a transtornos alimentares. A necessidade de estar sempre conectado e atualizado leva a distúrbios do sono e gera dependência e síndrome de abstinência.

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