"Plugue, baby, plugue". Foi parodiando um tradicional slogan do Partido Republicano americano, "Perfure, baby, perfure", reutilizado recentemente por Donald Trump, que Emmanuel Macron defendeu que as empresas de IA (inteligência artificial) invistam em seu país.

"Aqui não há necessidade de perfurar. No ano passado, exportamos 90 Terawatts de energia", disse o presidente da França.

Era uma referência à matriz energética francesa, considerada mais limpa que a dos líderes da IA, EUA e China: cerca de 71% da eletricidade produzida na França vem de usinas nucleares, e outros 28% de fontes renováveis. A pegada ecológica da inteligência artificial, provocada pelo alto consumo de energia dos processadores, é motivo de preocupação dos ambientalistas.

Macron fez um discurso cheio de frases de efeito no encerramento do primeiro dia da Cúpula de Ação sobre a Inteligência Artificial, que reúne especialistas do mundo inteiro nesta segunda (10) e terça (11) no monumental Grand Palais, ao lado da avenida dos Champs-Elysées, a principal de Paris.

O presidente francês pregou uma "estratégia Notre-Dame" para acelerar o desenvolvimento da inteligência artificial na Europa. Era uma referência à reforma da catedral de Paris, destruída por um incêndio em 2019 e reinaugurada em dezembro passado, depois de cinco anos e meio de obras, tempo considerado curto. "Mostramos para o mundo que, quando nos comprometemos com um prazo claro, entregamos", disse Macron.

Na véspera, ele havia anunciado que a França vai receber 109 bilhões de euros (cerca de R$ 650 bilhões) em investimentos no setor de IA, incluindo 50 bilhões de euros prometidos pelos Emirados Árabes Unidos para a construção de data centers em território francês.

"Estamos de volta à corrida. Temos o melhor ecossistema para a IA", disse Macron em inglês, para uma plateia de empresários, investidores e políticos, arrematando com uma pequena mudança na fórmula tradicional de encerramento dos discursos presidenciais na França: "Viva a inteligência artificial! Viva a República! Viva a França!"

O Brasil está sendo representado na cúpula pelo ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Ele participou de um painel sobre governança. "A IA não pode ser monopolizada por poucos países", disse em seu discurso. "Se deixada sem controle nas mãos de uns poucos, a revolução da inteligência artificial pode ter consequências graves para nossos sistemas democráticos", acrescentou.

A frase "Perfure, baby, perfure" é usada por políticos republicanos nos EUA desde 2008. Foi popularizada pela então candidata do partido à vice-presidência, Sarah Palin, então governadora do Alasca. Reflete o conflito central no estado americano entre a pressão para expandir a exploração de petróleo e a necessidade de preservar os frágeis ecossistemas do Ártico.