Carlos Madeiro

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Reportagem

Praia em obras para alargar faixa de areia é alagada após chuvas em Natal

A praia de Ponta Negra, em Natal, amanheceu alagada nesta segunda-feira (13), após chuvas que caem desde o domingo (12) no Rio Grande do Norte. A suspeita é que águas de galerias de esgoto também tenham chegado à areia.

Principal cartão-postal da capital potiguar, a praia passa desde o final de agosto de 2024 por um processo de alargamento da faixa de areia, que está 90% concluída. O problema ocorre em um período de alta temporada, com muitos turistas na cidade.

O projeto gerou polêmica e virou alvo de disputa judicial e política no ano passado, com direito a invasão do então prefeito à sede do órgão ambiental do Rio Grande do Norte para cobrar a licença ambiental.

Segundo o secretário de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal, Thiago Mesquita, a origem do problema foi na conexão entre dois pontos da drenagem. "Devido à incapacidade do ponto 8 de absorver esta água de chuva, em relação ao ponto 9, acabou aflorando esse material da engorda. O problema, do ponto de vista de execução e de resolução, é até simples", diz.

Ele explica ainda que a prefeitura autorizou a empresa responsável pela obra a trabalhar 24 horas para resolução do problema. "Estamos forçando, de forma mecanizada, para que a água que acumulou lá possa infiltrar mais rápido. Essa é a solução que vamos adotar para hoje e para os dias que chova".

"Sobre o mau cheiro que foi sentido lá, está relacionado a extravasamento o sistema de tratamento sanitário da Caern [Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte]. A gente já convocou a empresa e teremos uma audiência amanhã [14]."

Por fim, o secretário diz que a previsão de finalização da drenagem e da engorda é de 31 de janeiro.

Já a Caern afirma que não há registro de ocorrências de esgoto nesta área e, "caso haja presença, pode ser proveniente de ligações clandestinas no sistema de drenagem, que é da prefeitura."

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Praia completamente alagada

Segundo vídeos feitos por moradores e trabalhadores na área no início da manhã desta segunda, a água ocupou praticamente toda a faixa de areia em alguns locais da Ponta Negra.

"O que a gente está percebendo é que há algum problema muito sério. A praia não conseguiu resistir a esse volume de água em um setor que já estava considerado como aterrado. E não foi uma chuva tão intensa quanto as que a gente espera para um ano de La Niña", afirma Venerando Amaro, professor do do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte).

Blocos que deveriam conter água na praia de Ponta Negra Imagem: Arquivo pessoal

Para ele, os vídeos mostram que o sistema de escoamento não funcionou como deveria. "Esses blocos de concreto foram construídos exatamente com a intenção de impedir que essa água da chuva extravasasse essas feições", diz.

É uma água escura, com fezes, detritos. Isso mostra que a obra está muito longe de ser finalizada, não pode ser considerada uma entregue.
Venerando Amaro

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Segundo ele, obras como essa têm uma série de complexidades, mas lembra que ela está em processo de execução. "Nós estamos lidando com um aterro hidráulico, e a questão toda é como ele tem sido estruturado. Qualquer aterro hidráulico precisa de um período de adequação à dinâmica do ambiente", diz.

Todo o processo de equilíbrio com relação ao oceano ainda não aconteceu. Isso inclui As energias oceânicas, as marés, as ondas e as correntes.
Venerando Amaro

Para ele, é necessário que alguns pontos precisam ser revistos no projeto executivo.

Talvez o volume de areia não tenha sido colocado em volume apropriado, na altura apropriada para evitar que houvesse esse acúmulo de água, A inclinação da própria praia pode estar equivocada, mas eu destaco sobretudo esse sistema de escoamento, que rompeu e ajudou a inundar todo esse aterro.
Venerando Amaro

Obras de alargamento da praia de Ponta Negra Imagem: Divulgação/Emobi

A obra

O alargamento é um projeto tido como fundamental para salvar a praia da erosão e tem um custo estimado de R$ 76 milhões e prende aumentar a faixa de areia, engolida pelo avanço do mar nos últimos anos, em até 100 metros.

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A projeção inicial era para que o processo fosse concluído até o final de janeiro.

Em dezembro, o MPF entregou manifestação à Justiça Federal pedindo uma liminar cobrando a fiscalização da obra. Segundo os procuradores, "nenhum órgão ambiental está realizando a devida fiscalização da retirada dos sedimentos do fundo do mar - utilizados para ampliar a faixa de areia da praia -, apesar de todos os riscos ambientais envolvidos." O caso ainda não teve análise.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

4 comentários

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Sergio Pasin

Parece que estamos retrocedendo com o tempo. A tecnologia de engenharia parece estar sendo superada pela politicagem e ganância horrendas. Que a natureza derrube tudo.

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Carla Mary da Silva Oliveira

Tomara que o mar leve tudo.

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Francisco de Assis Frutuoso

Parafraseando Carlos Drummond "E agora José? A festa acabou!" Atropelaram os órgãos ambientais para realizarem a obra a toque de caixa, haja vista a campanha eleitoral para a prefeitura de Natal. Elegeram o candidato indicado pelo prefeito invasor dos Idema-RN. Fizeram a farra na campanha. Agora o povo natalense fica com o prejuízo do DESASTRE AMBIENTAL.

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