Em uma eleição presidencial acirrada, o debate entre a vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, e o ex-presidente Donald Trump foi visto como uma oportunidade importante para conquistar americanos indecisos. Enquanto a democrata manteve um desempenho considerado positivo nas redes sociais, as alegações falsas do republicano sobre migrantes que “comem animais de estimação” no estado de Ohio viraram material para a criação de memes.
A candidata democrata sabia que o ex-presidente abordaria a questão da migração e chegou preparada para o ataque: “ele vai falar muito sobre imigração esta noite, embora não seja o tema abordado”, alertou aos milhões de telespectadores que acompanharam o debate transmitido pela rede ABC. Ao responder uma pergunta sobre o tema, Trump afirmou que o governo do presidente Joe Biden permitiu a chegada de “milhões de criminosos, terroristas, delinquentes” e “traficantes de drogas”.
— Agora eles estão nos Estados Unidos e seus países, como a Venezuela, dizem: não voltem jamais ou mataremos vocês — acrescentou. — Em Springfield, eles estão comendo os cachorros, as pessoas que chegaram estão comendo os gatos. Eles estão comendo os animais de estimação das pessoas que vivem lá.
De acordo com o jornal britânico Guardian, as alegações de Trump sobre estrangeiros que matam e comem animais de estimação de cidadãos americanos teriam sido baseadas em um vídeo viral de um morador de Springfield, que alegava que imigrantes da comunidade haviam matado patos de um parque local para comer. O vídeo, que não foi comprovado, foi amplamente compartilhado em canais de direita, e evoluiu para um meme com imagens geradas por Inteligência Artificial (IA) de Trump cercado por gatos e cachorros, aparentemente os protegendo.
A história também foi reproduzida pelo companheiro de chapa de Trump, J.D. Vance. As alegações, porém, são falsas. Ainda no debate, o moderador David Muir disse a Trump que a rede americana ABC News entrou em contato com o gerente da cidade, que afirmou que “não houve relatos confiáveis de animais de estimação sendo prejudicados, feridos ou abusados” por migrantes. A polícia tampouco recebeu algum relatório relacionado ao roubo ou consumo de animais de estimação.
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Segundo o Escritório de Alfândega e Proteção de Fronteiras, o número de migrantes com antecedentes criminais interceptados ao tentar cruzar a fronteira aumentou nos últimos três anos (mais de 10,7 mil em 2021, 12 mil em 2022, mais de 15 mil em 2023 e mais de 14,6 mil desde outubro). Este número, no entanto, representa cerca de 1% dos mais de oito milhões de migrantes interceptados durante travessias irregulares desde a posse de Biden, em janeiro de 2021. (Com AFP)