Morre aos 66 anos o violoncelista Antonio Meneses

por Luciana Medeiros 03/08/2024

Morreu neste sábado, em Basel, na Suíça, o violoncelista brasileiro Antonio Meneses, aos 66 anos, um dos principais músicos de sua geração. Ele foi diagnosticado em junho com gliobastoma multiforme, um tipo agressivo de tumor cerebral, e no mesmo mês havia anunciado seu afastamento dos palcos.

Meneses foi um dos mais célebres solistas e cameristas de sua geração. Após vencer os concursos de Munique e Tchaikovsky, ele iniciou uma carreira de sucesso que inclui a colaboração com algumas das mais importantes orquestras e maestros do mundo. Também integrou o Beaux-Arts Trio e atuou, em duo, com músicos como os pianistas Menahem Pressler e Maria João Pires.

Meneses foi um dos mais completos e atuantes artistas da música brasileira de concerto, com uma vasta discografia e a presença nos principais palcos do mundo. Filho do trompista pernambucano João Meneses, nasceu no Recife, mas cresceu no Rio de Janeiro – o mais velho de cinco irmãos, todos músicos de cordas, encaminhados pelo pai.

Ao mais velho, “seu” João entregou um violoncelo. Ele tinha 12 anos e foi ter aulas com Nydia Otero, já começando a atuar na Orquestra Jovem do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e na Orquestra Sinfônica Brasileira. Num dos concertos da OSB, com o violoncelista italiano Antonio Janigro como solista, músicos amigos fizeram a ponte para que Meneses fizesse uma audição – e lá foi o rapaz para a Alemanha, estudar com o mestre. Com as vitórias em concursos como o de Munique e o Tchaikovsky, iniciou uma carreira sempre ascendente.  

Ele nunca voltaria a morar no Brasil. “Acho que, indo tão cedo e sozinho para a Alemanha, eu ganhei um pouco do jeito mais reservado do europeu”, ele dizia. Mas a alegria juvenil, especialmente nas passagens pelo Rio de Janeiro, sempre se fez presente. Estabeleceu-se em Basel, na Suíça, perto da fronteira com a Alemanha, com a segunda mulher, a japonesa Satoko Kuroda. Mas nunca deixaria de vir ao Brasil, ao menos uma vez por ano, tocar com as orquestras do país e com amigos, em formato de câmera.

Músico completo, Meneses foi um espetacular solista, camerista – em várias formações, duos importantíssimos e de longa duração, e a experiência de dez anos com o trio Beaux-Arts, ao lado de Menahem Pressler e Daniel Hope –, professor na universidade de Berna e em um disputadíssimo curso de verão em Siena, na Itália. Também se dedicava a ampliar o repertório do instrumento, encomendando peças a compositores brasileiros – gravou um disco em 2009, Suítes Brasileiras, em que convidou Ronaldo Miranda, Clóvis Pereira, Marlos Nobre, Edino Krieger, Marisa Rezende, Marcos Padilla para compor peças solo com inspiração nas Suítes de Bach.

A mais recente estreia foi feita em dezembro de 2023´, com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais: o Concerto para violoncelo e orquestra encomendado a André Mehmari, com quem havia gravado o disco em que celebrava seus 60 anos.

Quando ele voltou ao Rio de Janeiro pela primeira vez depois da pandemia de Covid-19, em agosto de 2022, comemorou seus 65 anos em um concerto na Sala Cecilia Meireles chamado Antonio Meneses e amigos. Em entrevista bem-humorada à CONCERTO, declarou: “Eu não pensava ir tão longe quando era rapazola, mas é a vida, e que bom que é assim”.

Meneses deixa a mulher, Satoko, e o filho, Otávio, do primeiro casamento.

Não haverá funeral, a pedido do próprio músico. 

 

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Antonio Meneses [Satoko Kuroda]
Antonio Meneses [divulgação Satoko Kuroda]

 

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Brasil perde, mundo perde .Esse é o tipo de brasileiro que levava orgulho de nosso país ao mundo.
Afinal todos nós somos seres espirituais vivendo uma experiência terrena ao qual só Deus tem a resposta do porque.

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