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Carlos Juliano Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro vem forte em outubro: onde estão as propostas para derrotá-lo?

É necessário construir um projeto de país que faça brilhar os olhos dos eleitores e se contraponha ao bolsonarismo - Diomício Gomes/O Popular/Folhapress
É necessário construir um projeto de país que faça brilhar os olhos dos eleitores e se contraponha ao bolsonarismo Imagem: Diomício Gomes/O Popular/Folhapress
Carlos Juliano Barros

Carlos Juliano Barros, 38 anos, é jornalista e mestre em Geografia pela USP. Há anos vem se dedicando à cobertura de temas relacionados ao mundo do trabalho. Nessa área, já dirigiu quatro documentários de longa e média-metragem, selecionados para importantes festivais dentro e fora do país. O mais recente deles, "GIG - A Uberização do Trabalho" (2019), produzido pela Repórter Brasil e exibido pela Globo News e pelo Canal Brasil, foi finalista na categoria imagem do Prêmio Gabriel García Márquez. Também é criador, roteirista e apresentador do podcast "Trabalheira/Rádio Batente", eleito pelo Spotify um dos destaques de 2020. Já colaborou para diversas publicações, como BBC Brasil, Folha de S. Paulo, Rolling Stone e The Guardian. Um dos fundadores da Repórter Brasil, recebeu o Prêmio Vladimir Herzog de Anistias e Direitos Humanos em duas oportunidades e foi finalista do Prêmio Esso de Jornalismo.

05/04/2022 04h00

Jair Bolsonaro vem forte demais para as eleições de outubro.

A dança das cadeiras na janela partidária encerrada na sexta-feira passada, e que transformou o PL - a atual legenda do presidente - na maior bancada da Câmara com 73 deputados federais, é um ótimo termômetro da popularidade do governo.

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Há muita gente se iludindo com a promessa de que na solidão da urna eletrônica os eleitores vão, finalmente, punir Bolsonaro por toda sua incompetência.

Motivos não faltam: milhares de mortes evitáveis na pandemia, inflação desembestada, desemprego de 12 milhões de pessoas, índices recordes de desmatamento, sequestro do Ministério da Educação por pastores picaretas.

Mas a cada nova pesquisa divulgada fica evidente que Bolsonaro vem crescendo nas intenções de voto. Sinal de que o presidente conta com uma base popular muito superior à imaginada por uma banda negacionista da realidade política.

Há muitas chaves para entender essa conexão tão visceral do presidente com quase um terço do eleitorado. A mais imediata e sedutora delas é a estética.

O bolsonarismo construiu uma aura de rebeldia contra o politicamente correto e os valores progressistas, calcados no respeito às minorias e na defesa dos direitos humanos.

Além disso, o enredo religioso do político que carrega "messias" no nome - e que se vende como alguém que escapou por milagre da morte para salvar o país - é outra frente dessa dimensão estética capaz de cativar multidões.

Mas é no diálogo com os brasileiros da base da pirâmide social que a eficácia do discurso bolsonarista se mostra mais intrigante. Como pode um governo que defende abertamente a supressão de direitos sociais e trabalhistas ter tanta legitimidade entre os que dependem justamente do trabalho para pagar as contas?

Em países como a França, onde a extremista de direita Marine Le Pen tem sua melhor chance de chegar ao poder nas eleições que começam no próximo domingo, os candidatos "populistas" se conectam com a classe trabalhadora insuflando a xenofobia.

Em outras palavras, o culpado de todos os males é o imigrante que rouba empregos e perverte a cultura nacional. Por essa visão de mundo, o atalho para recolocar o país nos trilhos é simples: fechar as fronteiras.

Por aqui, o extremismo de direita sofreu adaptações à realidade local. A receita bolsonarista é apostar na acumulação primitiva e jogar a culpa em quem supostamente atrapalha aqueles que só querem produzir, sem encheção de saco.

Assim, a solução mágica do bolsonarismo é esvaziar o Estado e estimular o cada um por si. Para caminhoneiros e motoboys com medo de ladrões, a recomendação é simples: compre uma arma. Para o dono de empresa disposto a precarizar seu funcionário, o recado é claro: não se preocupe com a fiscalização do governo.

Na prática, isso soa como um salvo conduto para todo tipo de ilegalidade: do garimpeiro que retira ouro de terra indígena à dona de casa que não registra a empregada doméstica.

Em um país em que os serviços públicos não gozam da melhor reputação e o Estado é visto como negligente, não é mesmo de se estranhar que esse discurso do vale-tudo tenha tanta ressonância: "só depende de mim, com ajuda de Deus".

O que chama atenção, a esta altura do campeonato, é a falta de imaginação dos opositores do bolsonarismo para propor uma alternativa ao verdadeiro faroeste caboclo em que o Brasil foi transformado - em apenas três anos e meio.

Se existem boas propostas para recuperar a economia e gerar empregos decentes, elas não foram colocadas na mesa ainda. E estamos a apenas seis meses das eleições mais importantes desde a redemocratização do país. Até porque Bolsonaro não parece disposto a aceitar uma derrota - se perder.

Sim, também é preciso que setores que chocaram o ovo do bolsonarismo, como a nata do mercado financeiro e os grupos da direita democrática, façam um mea culpa e condenem, de uma vez por todas, a ameaça que o atual governo representa.

Mas, acima de tudo, é necessário construir um projeto de país que faça brilhar os olhos dos eleitores. Foi exatamente o que Bolsonaro fez em 2018, ao canalizar a raiva de uma grande parcela da população brasileira e implementar um programa de governo baseado na pura e simples destruição. Não nos enganemos: há um risco cada vez maior de ele ser bem-sucedido, novamente.

162 Comentários

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MARCOS GERTH RUDI

A "nata do mercado financeiro e os grupos da direita democrática, façam um mea culpa e condenem, de uma vez por todas, a ameaça que o atual governo representa." Seria o correto, sem dúvida, mas acredito que o colunista - a quem elogio pela análise - não acredita que ele seja uma ameaça. Acredita, sim, que é melhor ele do que ter que registrar seu empregado, pagar impostos, não ter contratos a base de propina, e por aí vai. Essa elite sempre se ressentiu pelas classes D e E terem alguma oportunidade. É pura vingança.

PEDRO FERRENHA CERQUEIRA JR

ACEITE MEU CARO, BOLSONARO 22 VAI GANHAR.