Por que gasolina tem 27% de etanol e postos querem reduzir percentual
Uma dúvida antiga e que em algum momento já passou pela cabeça de muitos brasileiros é o motivo de a nossa gasolina possuir tanto etanol em sua composição.
A grande questão é que as respostas para essa pergunta muitas vezes são enviesadas, principalmente quando comparadas à realidade de outros países. Em resumo, a quantidade de álcool utilizada não é capaz de danificar as peças da maioria dos veículos, mas pode influenciar (para mais e para menos) no preço da gasolina - que, por sinal, anda nas alturas.
No Brasil, a mistura, que atualmente é de 27% para a gasolina comum, surgiu na segunda metade do século passado como uma estratégia para reduzir a dependência do petróleo estrangeiro, como explica o professor Renato Romio, do Instituto Mauá de Tecnologia.
A medida funcionou muito nas décadas de 70/80. Mas a redução da importação não era o único benefício.
"O etanol melhora a característica da gasolina, dando uma melhor octanagem, resistindo a uma compressão maior. Na prática, isso significa que adicionar etanol em uma gasolina mais simples transforma o produto final em um combustível de qualidade. O que também reduz o preço", explica o especialista.
De acordo com a Fecombustíveis (Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes), representante de revendedores, nem sempre essa estratégia é válida.
Enquanto o preço da gasolina é ajustado de acordo com parâmetros internacionais, o valor do etanol - que é um derivado da cana-de-açúcar - depende da disponibilidade da matéria-prima. Ou seja, depende de safras e entressafras. Como estamos vivendo uma crise hídrica no Brasil, talvez não seja mais tão interessante uma porcentagem tão alta de álcool, argumenta a federação em um documento enviado ao governo em maio deste ano, que pede a redução dessa porcentagem para 18%.
O documento cita a Lei nº 8.723/9, que permite variação da mistura pode entre 18% e 27,5%. "Cabe ao governo monitorar as questões que envolvem oferta e demanda, principalmente nos períodos de entressafra, para proteger o consumidor final que paga pelo produto", afirma o documento. A grande justificativa é que a baixa oferta eleva o custo do etanol hidratado, aquele que abastece carros flex, e do anidro (do tipo que é misturado à gasolina).
Sustentabilidade
Outra razão adicionar etanol anidro ao derivado do petróleo é a sustentabilidade, explica Renato Romio.
"Essa é uma questão mais atual. O etanol é considerado um combustível renovável, pois, no balanço energético, não produz C0?. Isso acontece porque os gases que são emitidos na combustão são recapturados na plantação da cana-de-açúcar, via fotossíntese. É exatamente por isso que a Índia e alguns países da Europa encontraram na inclusão do etanol na gasolina uma saída para a redução de emissões de gases poluentes".
Quando se fala na composição utilizada pelo Brasil, um dos argumentos contrários é de que as peças dos veículos não são preparadas para tanto etanol. A máxima não é verdadeira, segundo Romio.
"Muitos países só não utilizam uma fórmula como a nossa porque não é tão rentável quanto aqui. Enquanto produzimos etanol da cana-de-açúcar, nos Estados Unidos o combustível vem do milho e, na Europa, da beterraba. Ambas são produções bem mais caras, que não fariam sentido economicamente falando", argumenta Romio.
Pioneirismo do Brasil
O Brasil é pioneiro na utilização em larga escala de etanol combustível desde o fim da década de 1970. Atualmente, nosso País é um dos que mais utilizam o produto e ainda é o segundo maior produtor mundial. São duas as formas de utilização do produto: na forma de etanol anidro, como componente de mistura na formação da gasolina C; ou como etanol hidratado, comercializado em todo o país como combustível acabado.
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27 Comentários
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Esqueceram de falar a verdade mais uma vez. O percentual de etanol na gasolina foi motivada por loby dos usineiros junto aos mandatários da época.
Lastimável a explicação do vídeo. Passa ao largo, por exemplo que todos os principais produtores de petróleo "subsidiam os preços internos. Com a descoberta do pré-sal o Brasil estava alcançando autosuficiencia. Ou seja produzindo quase tanto quanto consome. Que sentido faz eu pagar um produto que eu mesmo produzo, com os preços do mercado para os que não produzem. A resposta, omitida é que isso beneficia os especuladores de commodities, mais uma vez em que a sociedade socializa o prejuízos e privatiza os lucros. Isso não é economia, é estupidez.