Sem Orçamento, Embrapa e mais 9 estatais poderão ficar sem pagar salários em abril
Dinheiro para a folha de pagamento a partir de abril depende da aprovação de crédito extra que contorne a “regra de ouro”
09/02/2021 - 15:10 • Atualizado em 09/02/2020 - 20:00
Dez empresas estatais poderão ficar sem dinheiro para os salários a partir de abril e dependerão de crédito extra a ser aprovado pelo Congresso Nacional. Situação semelhante ameaça o Fundeb, os militares ativos e outros gastos.
Isso acontece porque a proposta orçamentária do Poder Executivo para 2021 (PLN 28/20) ainda será analisada pela Comissão Mista de Orçamento (CMO) e pelo Congresso. A instalação da CMO está prevista para esta quarta-feira (10).
Essas dez estatais são dependentes de recursos da União. A maior é a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), vinculada ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Em junho, tinha 8.207 empregados.
Criada em 1973, a Embrapa é reconhecida no País e no exterior. Segundo relatório, “gera produtos, serviços e soluções tecnológicas para a agropecuária e é produtora e detentora de informações e conhecimentos técnico-científicos”.
Outra é a Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba). Com 1.509 empregados, atua nas áreas de agricultura irrigada, segurança hídrica e economia sustentável em oito estados e no Distrito Federal.
O presidente Jair Bolsonaro determinou a desestatização do Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), que também pode ficar sem dinheiro para 184 empregados. A estatal fabrica chips, etiquetas eletrônicas e sensores.
Regra constitucional
No Orçamento proposto para 2021, as despesas superam R$ 1,722 trilhão, mas 26,3% estão condicionados à aprovação de crédito suplementar de R$ 453,7 bilhões. Consultorias no Congresso fizeram alerta para os riscos da medida.
A Constituição proíbe que operações de crédito (emissão de títulos) excedam despesas de capital (investimentos e amortizações) – é a “regra de ouro”. Para contorná-la, é preciso o apoio de pelo menos 257 deputados e 41 senadores.
Para enviar proposta de crédito suplementar com esse objetivo, o Executivo precisa, antes, da aprovação do próprio Orçamento. Fora Embrapa, Fundeb e outras, disso dependem, ainda, precatórios e acordo sobre a Lei Kandir.
O Ministério da Economia disse que conta com a aprovação do Orçamento em tempo hábil, “não vislumbra insuficiência de recursos” e é “inapropriado afirmar que determinada despesa só será suportada em parte do exercício”.
Comissão mista
Os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), defenderam a análise urgente do PLN 28/20, parado desde agosto. “O Brasil precisa do Orçamento para combater a pandemia”, disse Lira.
O colegiado não foi funcionou em 2020 devido à pandemia e a impasse político na composição no atual mandato, em que a presidência cabe a um deputado. Um grupo apoiou Elmar Nascimento (DEM-BA); outro, Flávia Arruda (PL-DF).
Os líderes partidários da Câmara e do Senado já indicaram nomes para a CMO. Conforme as regras do colegiado, esses parlamentares cumprirão mandato até 30 de março e ficarão impedidos de participar no período subsequente.
Reportagem – Ralph Machado
Edição – Natalia Doederlein