São 21 homens e 3 mulheres, em 9 unidades da federação. O nº pode ser maior que o identificado pela reportagem.
O UOL só publicou os nomes completos de quem já morreu ou, no caso de quem está vivo, com autorização da família. Os demais casos estão listados com as iniciais.
Nome: Silvia Montarroyos
Codinome, Tatiana. “21 anos em 1964”, dizia sua ficha prisional. Acusação: crime contra a segurança nacional.
Atividades: participação em um partido trotskista, distribuição de um jornal com conteúdo “subversivo”, alfabetização de lavradores.
Em novembro de 1964, apenas sete meses depois do golpe militar, Silvia foi presa.
Após mais de um mês de prisão e tortura, os militares a mandaram para o manicômio.
Tratamento realizado: eletrochoque.
Hoje, Silvia tem mais de 70 anos.
"Me colocaram em uma jaula de uns 80 cm quadrados. Eu tinha que agachar e abraçar as pernas para dormir, mas jogavam balde de água gelada para me acordar. Eu só recebia meio pão seco e meio copo de água duas vezes por dia", disse ao UOL.
"Eu estive além da dor. Daí para a loucura foi a coisa mais natural do mundo. Tive alucinações visuais e auditivas", diz Silvia Montarroyos, mandada para o Manicômio da Tamarineira, no Recife, em 1964, depois de um mês de torturas brutais. Tratamento no manicômio: eletrochoque.
Relatório da Comissão da Verdade - criada para investigar violações de direitos humanos na ditadura:
Algumas formas de tortura empregadas pelo regime tinham como objetivo “provocar danos sensoriais, com consequências na esfera psíquica, como alucinações e confusão mental”.
Alucinações e confusão mental, assim como depressão ou ideias suicidas, são os quadros relatados na maioria dos 24 casos.
Há, inclusive, laudos psiquiátricos que sugerem que os sintomas psiquiátricos foram desencadeados pela experiência na prisão.
Ivan Seixas, que coordenou a Comissão da Verdade do Estado de SP:
“Nós nunca soubemos disso! Só sabíamos de casos isolados. E, de repente, são 24 casos, e você tem uma nova dimensão de algo que se achava que não tinha acontecido”.
Preso em 1971, aos 16 anos, Seixas é um dos casos identificados pelo UOL.
Foi mandado - ainda menor de idade - para uma instituição psiquiátrica, a Casa de Tratamento e Custódia de Taubaté, sem indicação médica ou sintoma que pudesse recomendar internação.
Em 1971, o estudante de Geologia na USP Antonio Carlos Melo Ferreira, ou Melinho, caminhava sem parar pela cela.
“Eu sou Tadeu, Tadeu eu sou, sou comandante revolucionário. Eu sou Tadeu, Tadeu eu sou, sou comandante revolucionário. Vanda! Vanda! VAR-Palmares!”, cantava Melinho.
Tadeu era seu codinome. Vanda, o codinome de Dilma Rousseff, que viria a ser eleita presidente da República.
Ambos integraram a VAR-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), uma organização política de esquerda que pretendia derrubar o regime militar.
Melinho foi preso em 1969. Dilma, no ano seguinte.
“Melinho foi barbaramente torturado, porque queriam que falasse sobre algumas pessoas. Uma delas era a Vanda. Mas ele não falou”, disse Ivan Seixas ao UOL.
“A ditadura foi uma fábrica de mortos e uma fábrica de loucos. Como eu, houve muita gente que enlouqueceu na tortura. Muitos outros precisaram [de suporte psiquiátrico] depois da prisão”, completou Silvia.
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