QUASE NÃO SAIU
Reprodução/TV Globo
LUCIANO GUARALDO, no Rio de Janeiro
Publicado em 30/4/2019 - 5h22
Uma das melhores novidades da TV brasileira neste ano, o quadro Isso a Globo Não Mostra quase não saiu do papel. Alguns executivos da emissora foram contra a sua produção, de acordo com Marcius Melhem, chefe do departamento de Humor desde o ano passado. "Tinha gente ali dentro dizendo que ele nunca deveria ir ao ar", conta o comediante.
"O quadro rodou bastante internamente. Tinham teorias maravilhosas que definiam que ele nunca poderia estar no Fantástico, e algumas pessoas achavam que sim. Felizmente, essas pessoas venceram", explicou Melhem durante conversa no Rio2C, maior evento do audiovisual brasileiro, realizado na semana passada.
Entre os que bancaram o quadro de humor, estava o nome que mais importava: Carlos Henrique Schroder, diretor-geral da Globo. Com o aval do chefão, a equipe foi chamada para produzir uma série especial de apenas quatro episódios.
Segundo Mauricio Stycer, colunista do UOL, o sucesso desses quatro programas resultou na encomenda de uma atração fixa, sem previsão de chegar ao fim.
De fato, o quadro muitas vezes é o maior ibope do Fantástico --e, mesmo quando isso não ocorre, não faz feio na audiência. No dia 14, por exemplo, marcou 21,0 pontos na Grande São Paulo --ficou à frente do Show dos Famosos, competição do Domingão do Faustão que exige investimentos muito maiores na produção.
Melhem revelou que a ideia de criar o Isso a Globo Não Mostra foi de tirar o público da inércia, não deixar o telespectador sentado no sofá e vendo TV apenas pela preguiça de mudar de canal. "Tem tudo a ver com esse caminho que a gente vem fazendo [com o Tá no Ar e o novo Zorra], de conexão mesmo, de movimentar um pouco esse cara diante da TV. Tentar dizer alguma coisa, sabe?", refletiu.
"Em um momento em que se fala tanto de fake news, e na qual se usava a expressão Isso a Globo Não Mostra para falar mal da própria emissora, a gente resolveu se aproveitar da hashtag para brincar com isso, manipular algumas imagens, sem nenhuma amarração, sem narração... A gente só coloca ali na tela e deixa para o público decidir o que é verdade e o que é mentira. E provocar uma reflexão sobre como é possível manipular determinados conteúdos."
Nos 15 episódios já exibidos, o quadro criou memes como o "três reais" de Ana Furtado e Raquel Amaral, colocou William Bonner para cantar Jenifer (aquela do Tinder), mostrou uma repórter que confundiu cachorro com canguru e, claro, disparou contra políticos, principalmente contra Jair Bolsonaro.
Para Melhem, porém, o principal é saber rir de si mesmo. "Era fundamental que tivesse a autossátira. A gente tenta fazer a piada sem ódio, mais na zoeira... Mas a gente deixou claro para a emissora, e isso foi comprado de cara pelo Schroder e pela diretoria, que antes de tudo a gente tinha que se sacanear", finalizou.
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