Helicóptero que levava Boechat não tinha autorização para fazer táxi aéreo

Segundo a Anac, a dona da aeronave só tinha autorização para fazer serviços como aerofotografia e aerofilmagem
Piloto tentava um pouso de emergência quando helicóptero foi atingido por caminhão Foto: Reprodução
Piloto tentava um pouso de emergência quando helicóptero foi atingido por caminhão Foto: Reprodução

SÃO PAULO — O helicóptero que caiu nesta segunda-feira provocando a morte do jornalista Ricardo Boechat e do piloto Ronaldo Quattrucci não tinha autorização para fazer o serviço de taxi aéreo. Segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) , a dona da aeronave — a RQ Serviços Aéreos Especializados — não poderia fazer nenhuma atividade remunerada , a não ser de "aerofotografia, aeroreportagem, aerofilmagem, entre outros do mesmo ramo".

O helicóptero caiu no início da tarde na Rodovia Anhanguera, na região do Rodoanel. Os dois ocupantes da aeronave morreram no local.

A Anac informou ainda que abriu procedimento administrativo para apurar o tipo de transporte que estava sendo realizado no momento do acidente.

Em 2011, a empresa RQ Serviços Aéreos Especializados foi multada em R$ 20 mil por oferecer, a R$ 250, voos panorâmicos no site de compras coletivas Groupon. Na decisão, a ANAC reitera que a empresa não é certificada e autorizada para realizar transporte de passageiros.

Na ocasião, a defesa alegou que se tratava de um engano da plataforma, pois “o contrato feito com o site foi direcionado a enviar um email para empresas de aeropublicidade, fotógrafos, construtoras e agências de publicidade com o intuito de filmagens e fotografias aéreas”, o que está dentro das atribuições da empresa.

A RQ ressaltou ainda que, uma vez que a promoção foi divulgada, entrou imediatamente em contato com a Groupon, que teria reconhecido o erro e retirado a promoção. Acrescentou também que o voo panorâmico citado no auto de infração ocorreu “em caráter pessoal, cedido gratuitamente pelo proprietário”.  Atualmente, porém, em seu site oficial, a RQ ainda anuncia que realiza o serviço turístico.

Na descrição na página da companhia, fica claro como os serviços extras eram feitos. A RQ é detalhada como "especializada em trabalhos aéreos tais como filmagens, fotografias e reportagens", mas acrescenta que "conta com parceria com outras empresas que completam o quadro de atuação dentro do segmento".

Serviços oferecidos pela empresa RQ Foto: Reprodução
Serviços oferecidos pela empresa RQ Foto: Reprodução

Na página que descreve os serviços, é informado que "através de parcerias"  são oferecidos os serviços de táxi, buscas, inspeções e escoltas aéreas, bem como vôos panorâmicos, participação em casamentos e transportes de valores. Já ao oferecer para os clientes os serviços de fotografias, filmagens e reportagens, a RQ descreve que ela mesma "disponibiliza os recursos aéreos" para cumprir as tarefas citadas.

Alguns serviços são oferecidos por meio de parcerias Foto: Reprodução
Alguns serviços são oferecidos por meio de parcerias Foto: Reprodução

A Libbs, empresa farmacêutica para a qual Boechat concedeu sua última palestra ainda nesta segunda-feira, informou que o serviço de transporte foi contratado pela empresa Zum Brasil, responsável pela organização do evento. A assessoria da Zum informou que consultou informações na Anac e que a aeronave aparecia em situação regular. 

A seguir, a íntegra da nota divulgada pela Anac: "A aeronave de matrícula PT-HPG, acidentada hoje, em São Paulo, era operada e pertencia à empresa RQ Serviços Aéreos Especializados LTDA. A empresa possui autorização da ANAC para prestar Serviços Aéreos Especializados (SAE), que incluem aerofotografia, aeroreportagem, aerofilmagem, entre outros do mesmo ramo. A aeronave acidentada também estava certificada na categoria SAE. Qualquer outra atividade remunerada  fora das mencionadas não poderia ser prestada. Tendo em vista essas informações, a ANAC abriu procedimento administrativo para apurar o tipo de transporte que estava sendo realizado no momento do acidente".

O capitão Augusto Paiva, da Polícia Rodoviária, explicou que o helicóptero tentou fazer um pouso de emergência na rodovia quando foi atingido pelo caminhão, que havia acabado de passar pela cancela de cobrança automática do pedágio instalado na ligação entre o rodoanel e a Anhanguera.

O Centro de Investigações e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) vai investigar o acidente.