oi gente, como sempre falo, o blog arquivossonoros e o grupo por e-mail se destinam unicamente a resgatar a cultura de todo o mundo. aqui você vai encontrar muito material já esquecido e praticamente perdido. este resgate é muito importante, pois se trata das primeiras gravações feitas em disco aqui no brasil. segundo a história, as gravações em discos começaram a ser feitas em 1903 e foram feitas pela casa edison, que foi a primeira gravadora brasileira. o primeiro samba gravado foi pelo telefone, em 1917 e foi feita por bahiano também para casa edison. já a primeira música foi isto é bom de xisto bahia com bahiano. esta foi a fase mecânica do disco. pretendo trazer mais gravações desta época. eu trago algumas gravações destas músicas. poderemos viajar no tempo, e ir bem lá no fundo do baú, mas bem no fundo mesmo, alí tudo começou aqui no brasil. para completar o que disse, transcrevo abaixo 3 artigos que encontrei pela internete logo após tem o link para você baixar o arquivo com estas gravações históricaas!
Casa Edison
Fundada por Fred Figner em 1900, situada à Rua do Ouvidor nº 107, a Casa Edison (nome-homenagem a Edison, o inventor do fonógrafo) foi um estabelecimentocomercial destinado inicialmente à venda de equipamentos de som, máquinas de escrever, geladeiras etc. Após dois anos de funcionamento, tornou-se a primeirafirma de gravação de discos no Brasil. No ano de sua fundação, Fred Figner escreveu para a companhia Gramophone de Londres, solicitando que a firma enviasseao Brasil técnicos para gravar música brasileira. Com a vinda do técnico alemão Hagen, Figner instalou uma sala de gravação anexa à Casa Edison, na Ruado Ouvidor nº 105. Foram então gravados os primeiros discos brasileiros, em seguida enviados à Europa para serem prensados. O jornal "Correio da Manhã"de 5 de agosto de 1902 registrou: "A maior novidade da época chegou para a Casa Edison, Rua do Ouvidor 107. As chapas (records) para gramophones e zonophones,com modinhas nacionais cantadas pelo popularíssimo Baiano e pelo apreciado Cadete, com acompanhamento de violão, e as melhores "polkas", "schottisch","maxixes" executados pela Banda do Corpo de Bombeiros do Rio, sob a regência do maestro Anacleto de Medeiros". Entre 1902 e 1927, período que correspondeà chamada fase mecânica de gravação, foram lançados cerca de 7 mil discos, dos quais mais da metade pela Casa Edison. Até 1903, a Casa Edison produziu3 mil gravações, conferindo ao Brasil o terceiro lugar no ranking mundial (estavam à frente os Estados Unidos e a Alemanha). Fred Figner enriqueceu, tornando-seproprietário de tudo o que se produzia em música brasileira. Como próximo passo, montou a primeira loja de varejo do Brasil, com um sistema de distribuiçãoem todo o país, com filiais, vendedores pracistas e produção de anúncios e catálogos. Em 1912, a Odeon Talking Machine instalou uma fábrica de prensagemde discos no Rio de Janeiro e Figner passa a ser vendedor exclusivo da Odeon, recebendo o encargo de fornecer o terreno e construir a fábrica. Esta foia primeira fábrica de discos instalada no Brasil e a maior da América Latina. Um ano mais tarde, a fábrica Odeon começou a produzir um total de 1,5 milhãode discos por ano, tornando-se o Brasil o quarto mercado de discos. A vendagem de discos durante a Primeira Guerra se mantém, tendo a Casa Edison comercializado4 mil gravações de música brasileira. Em 1925, a empresa holandesa Transoceanic é encampada pela Columbia Gramophone de Londres, que desenvolveu o sistemade gravação elétrica inventado pela Western Electric. No ano seguinte, a Transoceanic - Odeon afasta Figner, passando a dominar a distribuição de discosno Brasil. Em 1927, Fred Figner entrega o selo Odeon e passa a gravar pelo selo Parlophon. Em 1932, a Transoceanic afasta Figner do negócio de discos.A partir deste ano, a Casa Edison restringiu sua linha de mercadorias a máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos. Em 1960, encerrou as atividadescomo oficina de máquinas de escrever e calcular. Em 2002, o Instituto Moreira Salles, em conjunto com o selo Biscoito Fino, com apoio financeiro da Petrobras,lançaram dois livros acompanhados por 15 CDs, produzidos pelo pesquisador Humberto Francheschi sobre alguns dos melhores títulos da Casa Edison.
Fred Figner (Frederico Figner)
Empresário pioneiro, responsável pelo início da história da música popular brasileira gravada. Nasceu em Milesko u Tabor, Boêmia, atual República Tcheca.Em 1882, mudou-se para os Estados Unidos e, ao adquirir cidadania americana, tornou-se comerciante. Conheceu o primeiro fonógrafo em San Antonio, Texas,em 1889. Segundo suas palavras, "Era um aparelho com uns canudos que as pessoas punham nos ouvidos e riam". Embora não tenha ouvido o som da engenhoca,aceitou a proposta de seu cunhado de serem sócios na compra da máquina. Ainda em suas palavras, "sem querer ter a curiosidade de ver primeiro o que erao tal fonógrafo, aceitei a proposta. Era a base de uma máquina de costura que tinha de ser tocada com os pés, para fazer funcionar o fonógrafo. Compramosuma porção de cilindros em branco para preparar o repertório para expor nos países latinos". Excursionou pela América Latina por um período de 15 meses,até que decidiu vir ao Brasil: "Eu aparafusei o Brasil na minha cachola". Em 2002 foi lançada uma coleção de discos da Casa Édison, coordenada por HumbertoFranceschi e editada pelo Instituto Moreira Salles em parceria com o selo Biscoito Fino.
Em outubro de 1891, aos 26 anos de idade, chegou ao Brasil, mais precisamente a Belém do Pará, surpreendendo os participantes da Festa do Círio de Nazaré.Na máquina falante, tocou operetas, valsas, regtime e até mesmo a voz de políticos importantes. Ainda em Belém, gravou cilindros com árias cantadas porConcetta Bondalba, que estava à frente da companhia de ópera em cartaz no Pará. Logo depois seguiu viagem, passando por Fortaleza, Natal, Recife, JoãoPessoa e Salvador. Na Bahia reencontrou Bondalba e gravou mais algumas árias. No percurso, registrou também modinhas e lundus locais, quando percebeu queeste repertório era o que realmente chamava a atenção das pessoas. Em abril de 1892, desembarcou no Rio de Janeiro, onde continuou a mostrar a máquinafalante. Pouco depois, com medo da febre amarela, deixou o país, retornando em 1896. Ao chegar, alugou uma loja na rua do Ouvidor, onde inicialmente exibiu"Inana", peça de revista com truques de espelhos que davam a impressão de que a personagem principal flutuava no ar sem qualquer ponto de apoio. O sucessofoi tanto, que lhe possibilitou montar uma loja de equipamentos sonoros em 1897. Em 1900, fundou a Casa Edison (nome em homenagem a Edison, o inventordo fonógrafo), estabelecimento destinado a vender equipamentos de som, máquinas de escrever, geladeiras etc. Seguia vendendo cilindros com lundus e modinhas,trazendo em seguida a novidade dos gramofones que, diferentemente dos fonógrafos, tocavam chapas de maior durabilidade e definição sonora. Neste mesmoano, escreveu para a companhia Gramophone de Londres, solicitando que a firma enviasse ao Brasil técnicos para gravar música brasileira. Com a vinda dotécnico alemão Hagen, Fred Figner instalou uma sala de gravação ao lado da Casa Edison, situada na Rua do Ouvidor, 105. Foram então gravados os primeirosdiscos brasileiros, em seguida enviados à Europa para serem prensados. Até 1903, a Casa Edison produziu 3 mil gravações, conferindo ao Brasil o terceirolugar no ranking mundial (estavam à frente os Estados Unidos e a Alemanha). Fred Figner enriqueceu, tornando-se proprietário de tudo o que se produziaem música brasileira. Como próximo passo, montou a primeira loja de varejo do Brasil, com um sistema de distribuição em todo o país, com filiais, vendedorespracistas e produção de anúncios e catálogos. Em 1912, a International Talking Machine - Odeon instalou uma fábrica de prensagem de discos no Rio de Janeiroe Fred Figner passou a ser vendedor exclusivo da Odeon, recebendo o encargo de fornecer o terreno e construir a primeira fábrica de discos instalada noBrasil e a maior da América Latina. Um ano mais tarde, a fábrica Odeon começou a produzir um total de 1,5 milhão de discos por ano, o quarto maior mercadode discos do mundo. A vendagem durante a Primeira Guerra se mantém, tendo a Casa Edison comercializado quatro mil gravações de música brasileira. Em 1925,a empresa holandesa Transoceanic foi encampada pela Columbia Gramophone de Londres, que desenvolveu o sistema de gravação elétrica inventado pela WesternElectric. No ano seguinte, a empresa afasta Fred Figner, passando a dominar a distribuição de discos no Brasil. Em 1927, entregou o selo Odeon e passoua gravar pelo selo Parlophon. Em 1932, novamente é afastado do negócio pela Transoceanic. A partir deste ano, a casa Edison restringiu sua linha de mercadoriasa máquinas de escrever, geladeiras e mimeógrafos. Em 1960, encerrou as atividades como oficina de máquinas de escrever e calcular. Foi muito ligado aoespiritismo de Alan Kardec, apesar de suas origens judaicas. Morreu vitimado por problemas cardíacos aos 80 anos de idade, deixando uma imagem de pioneirismo,tendo sido o primeiro "diretor artístico" de gravadora no Brasil e o responsável pela fundação das bases profissionais do mercado musical brasileiro.
O magnata da Casa Edison
Rio, 5 de novembro de 1999 -
Entre 1902 e 1932, o empresário Fred Figner foi o comandante-em-chefe dosdiscos lançados e comercializados no Brasil. Por extensão, atuou comomagnata damúsica. Além de dono de uma empresa de tecnologia - a Casa EDISON, aprimeira instalada no Brasil, em 1900 - foi um inteligente caçadorde talentos.
Documentos inéditos remanescentes do arquivo da Casa EDISON,aos quais este jornal teve acesso com exclusividade, revelamsegredos guardados por quase cem anos. Eles lançam luz sobre oinício da industrialização no Brasil e da corrida tecnológica queresultou nas primeiras gravações de música brasileira.
Figner (1866-1946), judeu austríaco nascido na Boêmia, comcidadania americana, emigrou para o Brasil e se naturalizoubrasileiro no início do século. Começou como mascate. Logo quechegou ao Brasil, passou a freqüentar casas noturnas, festaspopulares e teatros para formar elenco para suas gravações. Revelougrandes intérpretes, entre eles os cantores Bahiano, Fernando eFrancisco Alves, os maestros Pixinguinha e Eduardo Souto. Além deescolher artistas, montava repertório, estúdios e fábricas ecomercializava equipamentos de som.
Com a multinacional Carl Lindström, de Berlim, instalou, em1912, o primeiro estabelecimento industrial de discos da América doSul: a Fábrica Odeon. Na época, o Brasil produziu cerca de 1,5milhão de discos por ano - o quarto mercado mundial. (ver editoriaFim de Semana) (Luís Antônio Giron)
05-Nov-1999 Gazeta Mercantil
Casa Edison
Rio, 5 de novembro de 1999
De tanto se repetirem, dados supostamente exatos se tornam história.Enciclopédias de música brasileira ensinam, por exemplo, que o empresárioFred Figner (1866-1946), fundador e dono da Casa EDISON e pioneiro dasgravações no Brasil, não costumava pagar compositores e músicos, tendoferidoprincípios básicos de direitos autorais. Era uma espécie de gângstera serviço das multinacionais do som, vindo de São Francisco, EstadosUnidos, e instalado no Rio de Janeiro como testa-de-ferro donascente império do disco. Outro dado citado com autoridade pelosestudiosos do assunto diz respeito à primeira gravação comercializadano Brasil. É consenso de que foi o lundu 'Isto é bom' (Xisto Bahia),em sessão feita em 1902, pelo Bahiano, 'popular cançonetistabrasileiro', com acompanhamento de violões. A matriz 10.001 do discoZon-O-Phone de 7 polegadas da Casa EDISON fornece a prova cabal dainformação, divulgada por todos os especialistas. Está mais do queestabelecido que os discos da gravadora de Figner começavam com umanúncio feito por um locutor para informar o público, em sua maioriaanalfabeto, sobre a faixa da música. Um quarto fato consumado dáconta de que os métodos de gravação de Figner eram primitivos e assessões musicais, desorganizadas. Assim, não há possibilidade dedeterminar data, local e acompanhamento nas gravações quepatrocinou. E nem de ouvir as gravações feitas no princípio doséculo, pois estão inexoravelmente destruídas pelo tempo e a máqualidade do material com que foram prensadas.
Seriam detalhes sem importância, se Figner não tivesse dadoinício à música brasileira como produto e à corrida tecnológica naAmérica do Sul. Seu papel foi fundamental no início daindustralização do país e no estabelecimento de uma identidadenativista para a música nacional gravada em cilindros e discos.
O fato é que o episódio do pionerismo da Casa EDISON sereveste de mistério e, para contá-lo, ainda vigora a mais rigorosainvencionice. Tudo o que foi citado acima está errado. E o motivo ésimples: os arquivos que restaram da empresa continuam em poder dosherdeiros de Figner. O empresário deixou seu patrimônio a trêsfilhas, Leontina, Lélia e Helena, que não se interessaram emfranquear documentos de família a estranhos. Elas morreram e os benspassaram aos filhos. E somente em 1985 foi possível ter acesso aparte do arquivo. O premiado foi o pesquisador e fotógrafo cariocaHumberto Moraes Francheschi. Aos 69 anos, ele é uma das maioresautoridades em história da tecnologia do som no Brasil e músicapopular brasileira. Seu livro, 'Registro Sonoro por Meios Mecânicosno Brasil', que publicou em 1984, é obra de referência essencialpara especialistas e quem gosta de história da música e tecnologia.Diferentemente dos 'donos' da MPB, Franceschi leva a precisão asério e não afirma nada que não tenha apoio em documentos. Além doque conviveu com grandes figuras da arte popular, como o compositorVinicius de Moraes, seu primo, e os compositores Bororó e IsmaelSilva, entre outros. Franceschi foi companheiro de Lucio Rangel eSergio Porto e os três dividiam o fascínio pela Era Mecânica do some sua instauração no Brasil. Por sorte, uma das netas de Figner,Rachel, estudou no Colégio Andrews com ele nos idos de 1935 econhecia bem sua paixão pelo assunto. Por isso, convidou-o a olhar oacervo da família. Franceschi viajou até Petrópolis para verificar omaterial. E o que descobriu deve mudar tudo o que se conhece atéhoje sobre o tema. Se é que se conhecia realmente alguma coisa.Depois de 15 anos de pesquisas, chegou a hora de o pesquisadorcontar tudo.
'É como achar um tesouro enterrado pelo pirata',entusiasma-se, mostrando manuscritos, fotografias, catálogos epartituras da Casa EDISON, além dos milhares de discos de suacoleção, com a qual mora numa casa estilo Belle Époque, isolada nomeio do trânsito intenso da rua da Passagem no bairro de Botafogo.'Com esse material, estou resolvendo o velho mistério'.
Como gosta de provar o que diz, triunfante, tira da gaveta deperto do computador o livro 'A Casa EDISON e Seu Tempo', com cercade 250 páginas, que acaba de concluir. Baseia-se em materialinédito: contratos, correspondência comercial, discos, livros degravações, bilhetes e até um diário que Figner escreveu pouco antesde morrer. Tudo que sobrou do arquivo de Figner. Curiosamente, nemum único disco.
O livro faz parte de um projeto de recuperação da memóriamusical do Brasil, intitulado 'Cantares Brasileiros', que incluilançamentos de livros com CDs. 'Não adianta contar a história damúsica sem mostrar a própria música, se possível restaurada como foigravada', comenta. Assim, o livro sobre a Casa EDISON será vendidocom cinco CDs que traçam o percurso artístico e tecnológico dagravadora de Figner. Um dos CDs traz um banco de dados com sete milentradas, com todo o arquivo remanescente da Casa EDISON. O quintoCD é um CD-ROM que traz fotos, manuscritos e outros documentos.'Isso abre uma nova perspectiva de pesquisa. O usuário terá acessodireto às fontes primárias. Até hoje, no Brasil, domina a compilaçãoe não a pesquisa. Ninguém descobre nada de novo. Só recolhe dados.'
Os quatro CDs com música compreendem as cem faixas maisimportantes das cerca de 6.845 (5.208 mecânicas e 1.637 elétricas)produzidas por ele entre 1902 e 1932, a maior parte delas peloprocesso mecânico. São faixas esquecidas de Risoleta, SenhoritaConsuelo, Bahiano, K.D.T., Fernando, a dupla Os Geraldos, PepaDelgado, Mário Pinheiro, Eduardo das Neves, Francisco Alves e outrostantos artistas que deram início ao que hoje leva o nome de músicapopular brasileira, produto de exportação e motivo maior de orgulhoda cultura nacional. Como hoje em dia esses artistas não sãoconhecidos - e muito menos a Casa EDISON - o projeto ainda está sempatrocinador. Franceschi possui 12 mil fonogramas, 'selecionados,pois não sou colecionador; tenho só o essencial'. É uma mina de sonspreciosos.
Franceschi toca uma fita DAT em seu equipamento de som deúltima geração. E já começa a acabar com o mistério: ao contrário doque se ouve por aí em CDs mal produzidos, sai das caixas-acústicasum choro de sonoridade cristalina, tocado pelo flautista PattapioSilva e grupo... em 1902. Segue-se um solo de oficleide, um diálogode casal cômico que parece ter recém-chegado da Praça Tiradentes,coração da antiga zona teatral carioca. Vêm Pixinguinha e o Grupodos Africanos, a voz coloquial de Fernando, crooner do Jazz BandSul-Americano nos anos 20, a banda do Corpo de Bombeiros regida pelolendário Anacleto de Medeiros, morto em 1908. São apariçõesimpressionantes, potencializadas por uma remixagem simples.
'Não altero a música', jura o pesquisador. 'Corto somente oschiados. O chiado provém do braço do gramofone, que pesava meioquilo, prensando ao sulco uma agulha do tamanho de um prego. Oprocesso, repetido, destrói a goma-laca, onde o som é gravado. O quese ouve, então, é a ardósia do fundo do sulco, barulho que aspessoas da época não ouviam. Assim, devolvo a antiga qualidade àsgravações. Elas não têm mais ruídos. Ouça esta... Você conseguedizer que essa música foi mal gravada e não tem qualidade?'
É uma cançoneta pelo Bahiano, cheia de uma malandragem dignados grupos de pagode atuais. Não, definitivamente cai por terra aidéia preconcebida segundo a qual a Casa EDISON produziu discos desom ruim, com chiados.
'Figner trouxe a tecnologia mais moderna da época para oBrasil. Seus discos eram tão bons quanto os produzidos na Europa enos Estados Unidos', diz Franceschi. Tanto que, informa, oempresário passou a prensar no Brasil, em 1912, os discos Fonotipia,produzidos pelo teatro Scala de Milão, famosos pela qualidadesonora. Era tamanha a exelência que os artistas da Fonotipiaassinavam os nomes na cera da matriz do disco. A assinaturamultiplicava-se nas tiragens, dando prestígio a quem comprasse aschapas, como os discos eram chamados.
Em 'A Casa EDISON e Seu Tempo', o pesquisador - que prefereser chamado de investigador, tantas incursões por dúvidas do passadorealizou para produzir o texto - derruba outros mitos, como o daprimeira gravação a ter sido comercializada no Brasil. Segundo ele,os historiadores se enganaram ao adotar a gravação de Bahiano comosendo um marco zero. 'O número 10.001 é o da etiquetagem, não o dolançamento ou da ordem de vendagem', explica. 'Todo mundo confundenúmero de selo com número de matriz. Além disso, o lundu 'Isto ébom' é o primeiro a aparecer no catálogo da Casa EDISON, em 1902.'Segundo apurou na correspondência comercial da firma, 'Isto é bom'foi gravado com outras 227 músicas, em trabalho realizado pelotécnico alemão Hagen entre a segunda quinzena de janeiro e aprimeira de fevereiro de 1902 na recém-isntalada sala de gravação daCasa EDISON.
'Conclusão: é impossível determinar a primeira música gravadaou comercializada no Brasil', afirma Franceschi. 'Certo é dizer quehá 228 discos iniciais da música brasileira, número que correspondeaos títulos oferecidos pelo catálogo de 1902. São, na realidade, asprimeiras gravações que sobreviveram ao tempo, já que Figner gravoudesde 1891, só que em cilindros, que não possuíam durabilidade epodiam ser raspados e reaproveitados. Perdeu-se o marco zero damúsica brasileira. O resto é invenção.' O pesquisador explica que osdiscos de 76 rotações produzidos por Figner tinham prensagemaleatória. Registrados no Brasil, os fonogramas eram enviados àfábrica da Zon-O-Phone, em Berlim e, ali, acoplados sem ordemaparente e enviados de volta ao Brasil. Uma polca, por exemplo,poderia ser comercializada, com um monólogo da atriz Sarah Bernhardtno lado B da chapa.
'Os discos da Casa EDISON possuíam particularidades que hojenos fogem ao controle', diz. 'Para os padrões atuais, é esquisito umdisco com faixas sem ligação de uma face para outra. Na época,porém, isso era normal. Segundo trato com a Zon-O-Phone, Figner eraobrigado a comprar 250 cópias de cada cera gravada e o obrigava aprensar músicas estrangeiras do catálogo, não importando a acoplagemque fosse feita.' Em outras palavras, Figner precisava equilibrarvenda de discos e possíveis insucessos. 'Era muito hábil nisso',conta Franceschi.
Também o uso de locutores - geralmente João Gonzaga e Bahianonas musicas intrumentais e os próprios intérpretes, nas vocais - queanunciavam a faixa só tem uma explicação técnica, segundo opesquisador: era para que os técnicos em Berlim, que prensavam eetiquetavam dos discos, pudessem saber de que música se tratava enão se enganar na hora de etiquetar o disco. 'Nada a ver comanalfabetismo do público', diz Franceschi. 'É mais uma das bobagensque os especialistas espalham por aí.' Cita como prova o fato de queos locutores deixaram de ser usados no instante em que a FábricaOdeon se instalou no Brasil. 'Já não havia necessidade de informar otécnico sobre a música, porque todo mundo entendia português e erafácil tirar a dúvida porque todos estavam na mesma cidade.'
Quanto à presumida desordem na produção da Casa EDISON,Franceschi mostra os livros de gravação feitos pelo técnico alemãoOscar Strauss, que percorreu o Brasil a gravar para a empresa.Franceschi descobriu o livro das sessões que realizou em PortoAlegre, na filial da Casa EDISON. Ali estão título da música,intérpretes, data e hora da sessão, dados copiados com grandeprecisão. Curiosamente, eram gravadas muitas músicas por sessão. Emuma tarde em meados de 1904, Bahiano era capaz de gravar trêsdezenas de músicas, uma atrás da outra, sem cortes ou repetições.
Mais um mito posto abaixo pelo investigador musical é o deque Figner não honrava compromissos com os músicos. 'Não pagavadireitos autorais e sim comprava as músicas dos compositores antesde gravá-las. Era o procedimento normal da época.' Para demonstrar atese, abre os livros de contratos, onde estão as assinaturas dosprincipais compositores do tempo, como Pixinguinha, que vendeu suavalsa 'Rosa' por 20 mil réis em 9 de setembro de 1918. Ou mesmo ocantor Mario Reis, que em 1929 passava para o empresário direitos degravação de sambas que nem eram dele. No processo, Figner seguiurigorosamente as normas vigentes.
Mas, afinal, Fred Figner foi um rábula da cultura? Peladocumentação reunida por Franceschi, Figner foi vítima da políticade fusões e da internacionalização do negócio da música, que seprocessava nas décadas de 10 e 20 do século XX, como ponta-de-lançada indústria de entretenimento. 'Puxaram o tapete dele da maneiramais suja', diz Franceschi. 'Figner foi vítima do capitalismoselvagem.'
abaixo o link para download:
primeiras músicas gravadas no brasil
http://rapidshare.de/files/30427822/primeiras_m_sicas_gravadas_no_brasil.rar.html